Eu que não sei falar de amor.
Eu que mal sei dizer o que e certo, pois em tempos como esses fazem de mim algo futurista ou antagônico.
Talvez não seja eu o atemporal, mas algo no dia dia não me parece normal.
Em que momento trocamos as virtudes?
E que momento redimensionamos a medida do incabível?
Fazemos do hediondo cotidiano, e da caridade raridade.
Essa capacidade do eu singular na hora de cobrar, e do eu coletivo na hora de ser cobrado.
Essa fé diluída em muita segregação, quando a maior parte das religiões prega a compaixão.
Esse estouro desenfreado para rotular o que não si é, e para apontar quem está errado.
Esse vício em extremismo, seja na homofobia, na religião, no feminismo, ou na simples opinião.
Contrastado pelo conformismo ao se deparar com o descaso do estado, falta polícia, falta saúde, falta escola, mas enquanto houver algum gay, machista ou ateu, haverá sempre algo mais importante para se cuidar do que vigiar seus candidatos.
E em tempos como esses, vivemos de contrastes extremistas e discrepantes, em um dia temos a memória de um elefante ao cobrar uma divida histórica, no outro temos amnésia sobre os escândalos de corrupção em nosso país.
Em um segundo momento sabemos de có o resumo da novela, ou a escalação do nosso time, reclamamos de nossas mazelas, mas sem argumentos nem cacife.
24 jogadores sabemos de có, mas a grande maioria nem si quer sabe quem são os senadores que representam seu estado.
E em um momento de fúria, pichamos muros, destruímos bancos, atacamos pivetes, com nossas panelas provocamos escândalos, e no auge na nossa rebeldia compartilhamos fotos do que não gostamos, enquanto nos acalmamos vendo algum vídeo engraçado logo a baixo do que postamos.
Se bem que eu compreendo a falta de protesto, somente uma parcela da população fica doente ou precisa de médicos por vez, somente uma parcela da população é assaltada por vez.
E nessa tendência ao Alzheimer coletivo, passeamos por alguns dias e já esquecemos sobre os horrores e vergonhas sofridos, e com isso chegamos a nossa maior capacidade neste século, o egoismo.
O egoismo nos dias de hoje tomou uma proporção totalmente nova e mais abrangente. É bem simples de compreender esse pensamento:
"Se é bom, é pra mim!, Eu mereço!"
"Se é Ruim, a culpa obviamente é de outra pessoa!"
E isso se reflete até nos níveis mais primórdios da sociedade.
Hoje em dias os pais não querem mais a responsabilidade de educar os filhos, terceirizam a função aos professores, à televisão, as músicas, e até mesmo à internet, claro que quando tudo da errado a culpa não é deles e sim dos professores mal formados, da televisão violenta, das músicas depravadas, e da internet virulenta.
Estamos de parabéns.
E eu que cada dia percebo que não sou desse tempo me pego errando.
Como não estar errado?
Traição virou cotidiana.
Os cidadães de bem é que têm que se esconder.
Os trabalhadores que não recebem seus salários tem de aceitar que isso é normal.
O doente que vai ao médico, nem é atendido por falta de material.
Mas nem tudo está perdido! Não é!?
Ainda temos dinheiro para investir no carnaval.
Para trazer as Olimpíadas.
Construímos um museu novo, e moderno com o dinheiro daqueles outros velhos que fechamos.
E ainda tem as bençãos do povo, que passa o fim de semana bebendo cerveja, e o resto do mês com pão com ovo.
É, e eu ser romântico e sonhador não leva a nada, pois como terei forças pra falar de amor, quando toda a nação está enterrada?
Rafhael de Oliveira Silva Salles.