domingo, 26 de abril de 2015

Aluga-se



Cara, que sensação de  vazio.
Olho pra dentro de mim e não vejo nada, só encontro desespero, uma ausência de algo que me parecia parte de mim.
Vejo meu coração tão vazio quanto uma casa que acabou de ser desocupada, e a amo.
Tanto espaço vazio agora, tantos dias passando, ou nem um dia passando, não sei mais distinguir.
Tudo tão sem cor, sem vida, sem cheiro, e eu me pego desejando que seja mais fácil pra ela do que está sendo pra mim, que ela realmente me ame bem menos, e que não sinta essa falta que eu sinto.
Estranho ve-lá em tudo menos em mim, senti-la em todas as coisas onde quer que eu vá, mas toda vez que fecho os olhos a coisa que sinto dela é a falta.
não sei ao certo o quanto ela sofre, e as vezes me pego pensando que seria magnifico se ela sofresse muito com isso e voltasse pra mim, mas eu nunca vou ser feliz enquanto ela sofrer, que essa dor que eu sinto seja só minha, e que eu fique com a saudade, e ela com outro alguém.
Não tenho sido capaz nem mesmo de me afogar como fiz das outras vezes, só o tempo poderia resolver, mas o tempo pra mim está parado.
E tudo que se refere a ela me entristece e felicita ao mesmo tempo.
Ela era a melhor parte de mim, e agora só sobrou eu.
Dia após dia, espero que ela nem esteja pensando em mim, que esteja se sentindo aliviada, por não está tendo esse fardo.

Eu invejo essa força de vontade (ou Ausência de sentimento, prefiro acreditar que é força de vontade), essa capacidade de me apagar totalmente da vida dela em menos de uma semana.
Da uma vontade de ve-la, mas é auto sabotagem, já ta impossível aguentar, dessa distancia, perto então, ouvindo as coisas ruins que certamente sairão de sua boca, e com certeza eu sou um alvo muito fácil.

Eu me controlei ao máximo, e como sempre estraguei tudo, na exaustão e no desespero da perda disse coisas que não penso, que não sinto, que disse apenas pra machucar, e isso me envergonha infinitamente.

Na tentativa de não dizer eu te amo, fica, lute por mim, enchi o pulmão de ar, a cabeça de vazio e a boca de merda.
e assim eu destruí de vez a única coisa que ainda me fazia lutar.

Desde criança fui um protetor, aguentando tudo para a pessoa que amo, e agora não há alguém que amo ao meu lado.
há apenas uma vontade imensa de sumir, uma preguiça, um desejo de largar tudo, absolutamente tudo e sumir, ou fazer algo bem suicida.
Mas ao invés disso eu apenas ando, faço tudo programadamente como quem espera que a vida passe, que tudo acabe, deixo que os dias passem sem motivo, sem esperanças ou expectativas.
Antes eu contava as horas pra ver a mulher da minha vida, a minha semana se resumia a umas horas na quarta feira a noite, ou em raras oportunidades onde podia ve-la, planeja a esperança de te-la em meus braços, aguardar ansiosamente pelo seu sorriso, pelo som da sua voz.

Me orgulharia se tivesse sido mais homem, e lutado por ela como eu acho certo, como todas as minhas forças, com todas as tentativas e chances que viessem, mas o respeito prevaleceu sobre a vontade de ficar juntos.

E eu jamais venceria.

E agora eu sumo.
Pessoas me dizem que é melhor assim, que não daria certo.
Que eu procurei uma mulher em uma menina, ou que eu não venceria sua família.
Que eu com certeza acho coisa melhor.
que eu fiz tudo que podia e que agora é partir pra outra.
Mas essas pessoas só me afastam ao dizer isso, me aborrecem me irritam, e isso não pode continuar.
Por isso me afasto de todos, não falo com ninguém a dias.

E quebrado, sem concerto, fé, ou esperança, eu só sei andar.
Ela era a religião dos meus sonhos, a Deusa que atendia as minhas preces, mas eu fui mortal de mais.

Em uma tentativa falha de me fazer bem, tento me enganar e pensar que eu fui único, que fui romântico, atencioso, presente, atento, carinhoso, que fui companheiro, mas isso tudo é mentira, pois alguém realmente assim seria  indispensável, e eu fui descartável.

E não me sobrou nem o direito de me revoltar, de odia-la.
E com isso nos tornamos iguais em sentimento pela primeira vez em todo nosso relacionamento, pois nos dois odiamos a mim.
Gostaria de encontrar com ela e entregar uma faca pra que ela terminasse o serviço, mas isso seria muito emo, e covarde.

Gostaria que tudo mudasse, ou que eu não gostasse mais dela, que eu nunca tivesse me apaixonado, ou que ela nunca tivesse deixado de me amar, qualquer coisa que mudasse esse resultado final, onde eu me encontro sem me encontrar.

Fui expulso da religião que mais me fez feliz na vida.
Humanos devem apenas adorar aos deuses, e eu cometi a heresia de achar que este poderia me amar.

Com a casca vazia, não posso me vender pois não há conteúdo, não posso penhorar pois não me quero de volta, não posso financiar pois não tenho expectativas para o futuro.

Sobra apenas esse imenso espaço vazio para aluguel.

Ninguém mais guarda o guardião.

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